terça-feira, 18 de setembro de 2007

Do céu aos trambolhões

Cheguei! Sinto-me entre a imponência d'O Voo das Valkírias de Wagner e os gélidos nocturnos de Chopin.
Que faço eu aqui?
Longe da minha cidade, longe do meu país, num país que não conheço, com gente que nunca vi, numa língua que não falo!
Que faço eu aqui?
Estou num sítio novo... poderei mesmo dizer que tenho uma vida nova. Posso agir, fazer, posso ser quem eu quiser ser. Sem condicionantes, sem predicados... sem moral? Não, também nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Sem condicionantes nem predicados, mas ainda eu, ainda sou eu que aqui estou por debaixo desta pele bronzeada.
Que faço eu aqui?
Não sei! Bem, quero dizer, até sei, venho cá fazer uma tese de doutoramento. Mas ao que venho mesmo? Venho numa fuga para a frente, venho simplesmente.
Do aeroporto de orly aqui foi um pulo e será sempre um pulo, mas foi ainda mais rápidinho graças à intervenção de uma colega do trabalho... diremos - futuro trabalho seria mais correcto, mas enfim - que me foi buscar de carro.
Cheguei! Sinto uma doce brisa na fronte, mas não consigo respirar.
Não conheço ninguém e vou ter de começar tudo do zero, um zero vazio que engloba o todo.
Entro na residência onde encontrei lugar, uma residência André de Gouveia, penso que é um nome um pouco complicado para se dizer simplesmente casa de Portugal, ou maison du portugal como aparentemente se referem a ela por estes sítios.
Que sítio escuro e triste, com sofás do século passado, paredes a imitar mármore, um banco corrido e um recepcionista que fuma lânguidamente o seu marlboro enquanto defuma a peça que ternamente transvaza com a ajuda dos respiradores nos vidros. Parece uma mistura de macumba com bar de alterne. Ele pede-me os documentos e entre os meus solavancos em francês e o bom humor dele, fico com a ideia que fala português mas quis usufruir da minha incompetência em francês para gozar com a minha cara...
Logo ao meu lado, em frente à recepção estão duas raparigas. Tenho de afirmar que não as tinha visto e não, não perco masculinidade por não as ter visto! Aliás como tinha dito, a entrada era escura.
Uma chama-se Clara, a outra Adelina, e também são recém chegadas. Parecem-me simpáticas. Veremos com o passar do tempo! Até porque eu terei muito tempo... Hoje é o primeiro dia dos três anos que se seguem.

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